Algures no Alentejo, de mistura com restos de sílices rolados, jazia uma pedra do Partenon, uma lasca de mármore encardido, que fora a única prenda que Maria Alfreda lhe dera alguma vez. Anos atrás, tirara-a do porta-luvas do automóvel e arremessara-a o mais longe possível, apontada a um campo de urzes e sobreiros. Fora um gesto de raiva e de ruptura, para se ver livre dum objecto que tinha sido tocado e recolhido por Maria Alfreda e que era, de certo modo, uma materialização da sua existência e da sua presença. O lance, mais inútil que cruel, não impedira que Maria Alfreda continuasse a assombra-lo, sem necessidade da intermediação duma coisa. Fosse como fosse, não se sentia orgulhoso do feito, e menos ainda do varejo que fez no dia seguinte, as pernas traçadas pelas urzes, as costas doridas de tanto se dobrar, na frustração de não destrinçar a pedra no meio das ervas, resíduos, folhas, outras pedras