No quadro geral da crise europeia de finais do século XIV, a historia portuguesa atravessa acontecimentos decisivos. Neste novo romance de Seomara da Veiga Ferreira são recriados em toda a sua vívida complexidade, a partir de um ponto de vista imanente à narrativa. O de uma mulher que em grande parte os protagonizou e que também foi imolada na implacável prossecução de objectivos de poder. A autora dá-nos uma visão absolutamente nova dessa grande mulher de quem os relatos oficiais nos deixaram uma imagem distorcida pelos espelhos maléficos na sua fulva beleza e no fogo verde dos seus olhos, aparece-nos como uma mulher de grande lucidez e cultura, visionária e inteligente dos projectos de reunificação que então animavam, de uma maneira ou de outra, as realezas peninsulares. Seomara da Veiga Ferreira reabilita-a também como mulher e como amante, questionado o libelo de «aleivosa» com que a sua memória atravessou os séculos. Temos, afinal, uma figura profundamente humana, nas suas vitórias e nas suas derrotas. Uma personagem à altura de Agripina, a do primeiro romance da autora. A prosa, porém, ganhou agora uma outra serenidade, uma nova respiração poética que nos rende sem apelo à leitura deste seu novo livro