Este livro prolonga e amplia a problemática de Corpo Ausente, a obra anterior de Mário Braga, que Óscar Lopes define como sendo "a análise das contradições entre o objectivo tendencial (da maioria dos escritores neo-realistas) e as limitações provenientes da mediana social em que se implanta a experiência dessa maioria". Tal processo está sobretudo patente nos contos Viagem Incompleta, que dá o título ao volume, e Cárcere Privado. No primeiro, um médico na clandestinidade debate consigo próprio e com uma companheira de viagem que o levará ao exílio o problema do seu destino, à luz e sob a influência de uma crise sentimental que o fizera separar-se das duas mulheres que amara. Como conciliar a liberdade e a necessidade, a teoria e a prática? Conseguirá ele pôr-se de acordo consigo próprio, terminando assim a perigosa viagem, ou ficará detido na fronteirados seus obstáculos interiores mesmo que o não apanhem? Cárcere Privado é a história de um jovem intelectual perseguido que, ao procurar asilo junto de um poeta amigo e correligionário, verifica que, em sua companhia, entrou na casa a intranquilidade. Utilizando o diálogo e os grande planos interiores, a narrativa desenvolve-se em dois tempos, o presente e o passado, tendo como pano de fundo a paixão que outrora unira o intruso à irmã do seu hospedeiro. A Águia Real, farsa dramática, dada em termos históricos, denuncia o oportunismo do jogo político, que não se compadece com sentimentalismos inúteis. Eis os três candentes temas deste livro de Mário Braga, que Vitorino Nemésio considerou "como um dos escritores mais sinceros e aliosos da sua geração